terça-feira, 24 de maio de 2011

Artigo do Prof. Manfred Zeuch - Diretor Seminário do Canadá

O Jovem cristão e o Rock
Pode um jovem cristão ouvir rock?

Minha primeira resposta sera uma informação: Eu me considero jovem ainda, embora em meia idade: 49 anos. Eu ouço rock. Esporadicamente. E sou presidente de um seminário. Meu colega, pastor, teólogo (muito conservador por sinal em questões de estilos de música para o culto!), presidente da universidade luterana aqui em Edmonton, Canadá, ouve mais rock do que eu. Entrando no seu escritório num desses dias, eu o vi com caixas de som com booster na mesa de trabalho, ouvindo um heavy rock pelo computador enquanto trabalhava. Em casa ele tem telão e projeção de shows de rock, com os filhos.
E muitos outros cristãos luteranos adultos "menos jovens" ouvem rock. Então a primeira resposta é: se nós "coroas" ouvimos, por que não os jovens? Ok. Simples.

No entanto tanto nós, como - e aqui eu diria: muito mais os jovens, precisamos manter constante vigilância e certas distinções.

Um colega meu, teólogo, na Alemanha, director da Hora Luterana, Dr. Neumann, fez sua tese de doutorado em Erlangen sobre o tema "O pano de fundo religioso na cena to rock". Ele sustenta a tese de que os inicios do rock, e grande parte do rock contemporâneo, têm uma origem e um propósito religioso pagão. Volto a isso mais tarde.

Lembro de uma palavra de Paulo: "Tudo me é lícito, mas nem tudo convém", 1 Co 6.12. Assim, não existe padrão bíblico sobre que tipo de música é "correto" e que tipo é "errado" para um cristão. Música e instrumentos fazem parte da alma criativa do ser humano, recebida por Deus, e fazem parte deste mundo, e Deus descreve o céu – com palavras simples e da "nossa realidade", para entendermos – como um lugar que tem música também. E se instrumentos celestes mencionados na Bíblia fossem lei, deveriamos banir órgãos e harmonios e só tocar "harpa" nos cultos...
Então: tipo de música, instrumento e vozes, em si, são neutros, para se ouvir. Os aspectos a serem considerados são o cuidado com os "fracos" na fé, o conteúdo e mensagem da música, e sua influência em nossa mente e estilo de viver.
Música rock é totalmente parte da "pop culture", a cultura popular, e um cristão pode usufruir dela como: livros, arte, filmes, música. Eu por exemplo gosto muito de "Avatar" mas sei que o filme do Canadense mistura um monte de coisa não cristã religiosamente falando. Mas tem um bom fundo moral. Se sugerisse alguma ação contra a vontade de Deus claramente, não recomendaria! Se um conteúdo de música por exemplo "sugere" vida libertina, uso de drogas, violência, desrespeito a outros seres humanos (se é racista, ou anti-pais, anti-autoridade, etc.), banalização do amor e casamento, ou como o diabo ou satã são bacanas, devemos nos antenar e banir! Não é a melhor coisa de se ouvir, muito menos deixar outros verem que estamos ouvindo!
Agora muita música tem teor erótico. É errado? Bem, até a Bíblia tem, basta ver o livro de Cantares por exemplo, com poemas eróticos. Então tudo depende da situação da pessoa: erotismo faz parte da vida da pessoa para ser exercida em casal, por natureza, dada por Deus (Ef 5.31; Gen 1, Cant). Se uma música leva o casal para mais perto e a usufruir mais de sua vida íntima e amorosa em dado momento, excelente! Mas e jovens solteiros? Se a música o leva a querer ter sexo com outro/a jovem, fora do casamento… tudo errado! Deve-se evitar ouvir muito esta música ou banir totalmente! Entendem como depende da situação da pessoa? Tudo depende do que a música pode 1) causar em você, 2) em sua relação com Deus, 3) em sua relação com o próximo e seu testemunho como cristão. Eu poderia particularmente ouvir uma música de amor (por exemplo a “forte” música dos anos 1970 do Serge Gainsbourg "Je t'aime mois non plus") mas não a ouviria quando tenho ao meu redor outros irmãos na fé dependendo de quem são. Eu posso ouvir e gosto da música "My Sweet Lord" de George Harrison, mas sei que a letra descreve o apego do Beatle a religiao Hindu e Hare Krishna! Vou ouvir apenas como entretenimento musical e sons de melodias e palavras, não como mensagem religiosa e existencial para mim, porque tenho um outro "doce Senhor"! O Senhor Jesus Cristo. De novo: provavelmente não ouviria "My sweet Lord" na frente de alguém que ou não gosta dos Beatles ou acha que esta música é errada.
Agora quanto ao mais radical, o rock pesado. Bem, em 2005 eu fui com meu filho num show de rock "Live'n Louder" no Gigantinho que teve 7 bandas com 10 horas de rock pesado sem parar, sendo a maioria gothic rock. Nightwish e Scorpions fecharam a noite. Embora eu não tivesse considerado errado nós dois termos ido, não faria facilmente de novo pela simples integridade dos meus ouvidos. Mas gostei dos três solos de bateria por exemplo! E da voz da Tarja.

Mas, com meu colega presidente da universidade Concórdia, e com nosso Deão acadêmico de 63 anos que curte cultura pop, fui novamente assistir a banda alemã "Sorpions", desta vez aqui em Edmonton, há dois anos. Ta ok, muitos de vocês vão dizer que Scorpions é banda de velho mesmo… mas atentem para o princípio! (sorriso)

Assim, vocês podem ver que, como não podemos de maneira alguma dizer hoje – como se dizia em nossos círculos antigamente! – que "dançar é pecado", em si, mas que depende de "quem, onde, como, quando, com quem, pra que", o mesmo com a música. Cuidem da mensagem da música, do contexto, da mensagem que vocês dão também.

"Rock cristão"? Hum. Meu colega presidente, que já mencionei, é contra toda música

contemporânea cristã e acha que "lugar de violão é no bar", não na igreja. Rock pesado cristão não é meu estilo, na verdade não ouço muito (gostava dos “Sãos e Salvos”, este meus alunos do seminário!). Mas se é para ganhar "alguns para Cristo", vamos lá! Por isso também acho bacana um colega pastor na Alemanha, conselheiro distrital – motoqueiro – organizar passeios e "cultos para motoqueiros" que reúne dezenas de pessoas não da igreja que ouvem a mensagem dele, em cima de suas motos num parque! Para nossos cultos luteranos o rock não parece apropriado, mas sim o uso de música que fomente e auxilie na meditação, agradecimento, adoração. Nossa hinologia luterana tradicional é um tesouro seguro, insuperável e imperdível! Entre música contemporânea acho o estilo de Taizé, da França, muitas vezes como muito bom para nossa espiritualidade. Porque enfatiza a palavra de Deus e sua ação, e não nossa propria religiosidade e atividade (como muita música cristã "evangélica" de hoje faz! Cuidado aqui também!) Apenas um exemplo.

No mais, um aluno nosso aqui da teologia que se formou pastor agora em maio, o Lin Pui Yeong, de Hong Kong, sob minha direção escreveu o TCC de mestrado dele sobre "Adiáfora: liberdade no Evangelho" (Adiaphora: Freedom in the Gospel) e foi muito bem. Não quero entrar em detalhes teológicos aqui com vocês, apenas compartilho as linhas gerais com que vejo tudo isso.

Manfred Zeuch - Canadá, Edmonton, Junho de 2010.


Curtam ai esta musica do Sãos e Salvos...

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